domingo, 31 de janeiro de 2010

Os 25.

Ai os 25. Se eu pudesse tinha parado nos 23. 25 já me pesam na memória e fazem-me lembrar que a partir daqui é sempre a contar e nunca mais pára. Hão-de vir os filhos, as dores de cabeça, as angústias, as mudanças de emprego, as mudanças de hábitos, a criação de novos hábitos, as mudanças de casa, as saídas de casa e depois hão-de vir os netos.

Aos 25 já sinto que começa a ser tempo de deixar de ser solteira. De arranjar O homem que vem a cavalo salvar-me dos dragões e coisas do género. Aquela coisa a que chamamos "príncipe encantado"! Giro todos os dias e com aquele charme que só nós mulheres compreendemos. Ai... O Homem da minha vida. Que nunca mais se decide a chegar. E que sinto que se deve ter perdido pelo caminho.

Aos 25 já não há espaço para as desculpas do "Ai! Esqueci-me", do "Bolas, foi sem querer" e do "Oh! Não me digas!". Convém não falhar, convém crescer. Já não és criança, já não podes ser adolescente e estás entre o jovem e o qualquer coisa ali no meio.

Aos 25 começa a realidade. Abres os olhos para o mundo. Vês que afinal o cor-de-rosa só existe nos filmes americanos e a realidade está pintada de preto e branco. As cores foram inventadas para nos divertir. Fechas o teu mundo só aqueles que estiverem mais perto e se mostrarem mais disponíveis. Aos 25 ser ingénuo já não serve. Ou pisas ou és pisado.

Aos 25 começas a contar a vida. O dinheiro no bolso, as migalhas de pão, os amigos que casam e tu nada!, as viagens que ainda não fizeste e ou fazes agora ou já não fazes, as loucuras que já não podes fazer porque as costas já doem, os pés já se queixam e o fígado já não deixa... Aos 25 já dizes "Um quarto de século!" e ficas melancólico e cheio de saudades dos 15.

Aos 25 começas a ouvir o que até ali estava implícito que um dia irias ouvir: "Já saías de casa, digo eu. Não sei!... Um emprego estável e tal... Casar...". E tu respondes com um: "Pois!". Que mais há a dizer?

Aos 25 já tens medo. Já sentes a responsabilidade a cair-te em cima dos ombros. A tua voz interior a dizer "Não faças isso". Já não convém dizeres "Mãe, como se faz?" porque já tens idade para o saber. Já tratas do IRS, sabes que detestas o IVA e o Imposto Automóvel, começas a poupar para a vida e ficas na esperança de que ainda não a tenhas de viver sozinho já.

Aos 25 meus amigos já não há desculpas. Já não há segredos. Já não há protecção. Já não há compaixão.

Aos 25... Aos 25, começa a vida.

Corroída.

Corroída. É como me sinto. Matas-me a cada dia, a cada gesto, a cada indiferença com que me tratas. Não o sabes mas estou a pontos de não te perdoar nunca mais. E isso mata-me a cada hora.

A amizade é suposta ser para sempre. A amizade é suposta estar lá quando é precisa. É suposto dar sem esperar nada em troca. Mas não receber dói e mata-me por dentro.

Tu? Tu vives. Na tua indiferença, no teu egoísmo e na tua ignorância. Vives no teu mundo e não vês o que está à tua volta. Dizes que te vais preocupar mas espero e a mensagem não chega. Dizes que não te vais esquecer, mas espero e sei que não te lembras. Dizes que estás aí, mas quando chego dizes que não vais chegar.

Eu aprendi a dar. Eu adoro dar. E dou tudo o que tenho mesmo quando o não tenho. Mesmo quando preciso para mim mas sei que vai valer a pena ver o sorriso na tua cara quando te der o que não precisas mas vais adorar receber. Faz parte de mim amar, ver aquele sorriso na cara daqueles que me são importantes, que me são reais, que vivem em mim. Faz parte de mim ser amiga e nunca o abandonar quando tu mais precisas de mim. Faz parte de mim ser assim e não existir quem o seja assim para mim.

Pensei que fossemos feitos da mesma matéria, do mesmo pedaço de céu, do mesmo forno. Pensei que fossemos feitos de amizade. Que fossemos feitos do amor que é a amizade. Que aquilo que sinto por ti fosse o mesmo que sentes por mim. E enganaste-me tão bem. Enganaste-me tão bem....

Aqueles que mais nos magoam são aqueles que nos apunhalam pelas costas e só nos apercebemos quando nos estamos a esvair em sangue. São aqueles de quem só esperamos sorrisos, só esperamos uma mão para agarrar na nossa, aqueles que deviam ter um ombro pronto para apoiar a cabeça em momentos de desespero, que sofrem por nos ver sofrer, que odeiam quem nos faz sofrer, que choram quando nos vêem chorar. De quem o abraço é mais forte, mais seguro, mais doce.

São esses que mais nos magoam. Que nos traem no campo de batalha. Que fingem estar do nosso lado quando na verdade só seguem o seu caminho usando o que está à sua volta para chegar onde querem chegar.

Mas quem nos mata é quem nem se apercebe que o faz e ainda diz que não o fez. Aqueles que ainda são capazes de nos culpar enquanto nos matam, de nos odiar por duvidarmos da sua palavra e dizerem que o sangue que têm nas mãos não é o nosso quando não há mais ninguém a morrer à sua volta. Aqueles que seguem o seu caminho convictos que o mundo conspira contra eles. Que o amigo que ele próprio matou sabendo que este daria a vida por ele, morreu pela sua própria mão e que ele perdeu a cena por ter piscado os olhos naquele instante.

Nem tudo na vida é "corte e costura". Nem tudo tem remendo. Vidro estilhaçado no chão não pode voltar a ser copo. Uma peça queimada no lume nunca vai completar o puzzle. Castelo de areia colhido pela maré nunca será reproduzido com a mesma exactidão, com os mesmos grãos dispostos na mesma ordem. Amizade apunhalada por uma série de péssimas decisões nunca mais voltará a ser a mesma.

Aos poucos estás a matar-me. E sei que o arrependimento não vai estar nos teus planos. Porque não vês que o estás a fazer. E mesmo que de repente acordes e vejas os erros que estás a fazer, agora é capaz de já ser tarde demais. Isso corrói-me.