domingo, 3 de outubro de 2010

Pânico solitário


O esforço para me carregar a mim própria até tem tido os seus frutos. Na maioria dos dias que se atravessam à minha frente aguento-me com alguma facilidade. Chego a comentar comigo mesma que sou feliz. Mas hoje não é o caso.


A verdade é que o pânico da solidão ainda vem de vez em quando. Como hoje. Há dias em que o coração reclama os seus direitos e me pergunta onde está o carinho, o amor e tudo o resto. Onde está a família, onde estão os amigos. E a minha mente esforça-se para o mandar calar. Com que direito pode o meu coração fazer perguntas tão pertinentes? Com que direito se sente ele de dizer o que sente? Todo o direito, bem sei. Mas mesmo com todo o direito de o fazer, quero que se cale. Porque o sacrifício tem de ser feito e ele tem de se aguentar sem nada do que pede.


Ainda tenho medo da solidão. Não gosto de voltar para uma cama vazia. Não gosto de não ter um número para onde ligar e poder contar o meu dia. Não gosto de não ter com quem passear, com quem fazer compras, com quem ir beber um café e comer uma tosta mista. Mas a verdade é que a opção que fiz na minha vida é outra. Por agora vou ter de ir aumentando a saudade, a distância, o vazio para poder me ter a mim e seguir o que preciso para ser feliz. O pânico que me atravessa surge-me por saber que aquilo que preciso pode nunca vir até mim.


E sim tenho medo da solidão. Tenho medo de querer voltar e não ter uma casa que diga ser minha. Não ter amigos que me reconheçam. Não ter carinho. Não encontrar o braço direito. E não encontrar a metade que me falta. Por isso hoje estou em pânico. E não tenho ninguém por perto que me possa abraçar e dizer "estou aqui".

1 comentário:

  1. Pois Millia,

    Conheço bem esses sentimentos demasiado bem, e o que mais me aflige é que sei que vou passar por eles outra vez brevemente. No entanto acredito piamente que é assim que se escrevem as melhores histórias, acredito que é um pequeno sacrifício para chegares onde queres e mereces chegar.

    Tem que dar tempo ao tempo e sabes sempre que se um dia decidires voltar tens toda a gente em Portugal à tua espera.

    Força

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