domingo, 27 de abril de 2014

Pena.

Há dias em que tenho pena. 
Pena dos que falam sem saber. Pena dos que falam sem querer saber do que se passa. 
Pena de perceber o que realmente se passa. 

Realmente a bondade não é coisa boa. Parece que ninguém sabe realmente ser bom ou apreciar quem realmente é bom. Parece que ninguém percebe que a bondade deve ser recompensada. 

As pessoas desiludem-me. Tanto que já nem sei o que fazer do que sinto. A verdade é que minto e vivo esta mentira simplesmente porque se realmente me deixar sentir o que sinto, ainda me magoa mais. 

Eu sou justa. Sempre fui. Ensinaram-me assim. O meu pai ensinou-me assim. Que aquilo que me pertence me pertence. Que por muito duro que seja, não se tem aquilo que não se pode ter até se trabalhar para o poder ter. Junta-se até se poder ter. E que o dinheiro vale o que vale. Que a família está em primeiro lugar. Sempre. Em qualquer situação. E que nada vale mais na vida do que ser honesto. Que quando se pode, se ajuda os outros. Sempre. O meu pai ensinou-me isto. Que é preciso sacrifícios. Que é preciso perseverança. E que em todos os momentos temos de ser justos e pensar em nós e nos outros. 

Mas provavelmente nós somos os parvos. Que somos presos por ter cão e presos por não ter. Que por muito que dêmos ao mundo, nunca é suficiente para termos o que merecemos quando o recebemos. 

A inveja é uma coisa tão feia. Que sim, eu também a sinto. Quando não devo, por quem não devo. Mas nunca tratei mal uma pessoa por ter inveja da sua bondade. Nunca tratei mal quem não merecia por ter inveja da pessoa ter recebido aquilo que merece depois de tanto tempo e dedicação. Ao contrário, eu engulo a minha estupidez e obrigo-me a sentir-me feliz por aquela pessoa. Porque ela merece. Ela merece. 

A verdade é que os outros não vêem o quanto a pessoa penou. As pessoas não vêem os sacrifícios que fazemos. Não vêem o quanto sempre fomos correctos, o quanto sempre fomos bons. E mesmo quando lhes damos a oportunidade de ser honestos, não são capazes de o ser. E isso dá-me pena. Muita pena mesmo. Porque entretanto estragam-se amizades que nunca mais se retomam e que nunca voltarão a ser iguais. Porque por muito perdão que mo venham pedir, a ferida ficou lá e nunca nada vai voltar a ser igual. E quando essas feridas são criadas por quem menos esperávamos, por quem nós sempre tivemos um tremendo carinho e respeito, cortam ainda mais fundo e podem simplesmente nunca sarar. 

Tenho mesmo muita pena. Mesmo muita pena. 

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